Não gosto de almoçar sozinha, nem de jantar. Mas tomar café é uma morte. Uma das muitas, segundo João de Melo, o homem da gente feliz com lágrimas. Não gosto de estar sozinha, nem quando digo que gosto ou que preciso.
Instaurei, então, como ritual destes dias, para além de ouvir os sinos da sé, tocando de quinze em quinze minutos, o café n'A Brasileira. Povoado de gente. De gente de muitas gentes. Chego pela mesma hora, sento-me na mesma mesa, ao lado dos senhores que lêem sempre o mesmo jornal. É agosto na cidade bimilenar dos turistas. Com as portas abertas, a brisa refresca a alma, já que o corpo não pode.
Um expresso comprido, não é menina?
Ao menos não me trata por senhora.
E um copo de água
para ajudar a passar o tempo. Este é o único café que consigo beber sozinha, sem deixar a chávena a meio. O sabor compensa a amargura da cadeira vazia. Anda jazz a voar pelo ar com as pombas e eu só me lembro do tango.
Como ficaria o just the way you are pelo Carlos Gardel?
Ando com este senhor às voltas na cabeça graças ao António Lobo Antunes (este também merece maiúsculas e acentos).
Daqui a pouco volta a tocar o sino da sé. O tempo passa de quinze em quinze minutos em braga.
Tenho que escrever uma carta de apresentação e não sei por onde começar. Ao meu lado uns senhores falam do mar da palha e da expo 98. Um casal francês levanta-se e há uma pomba que entra por uma das portas abertas. Estou sozinha com o meu moleskine a escrever cartas a ninguém.
Ainda bem que o d'A Brasileira é o único que consigo beber sozinha.
Um dia danço lá um tango com sabor a café.