Senta-te um bocadinho desse lado. Só um bocadinho. Só para eu poder falar um bocadinho. É só um bocadinho e é só o que eu peço a quem vai por aí a passar. Era só mesmo um bocadinho para fazer de conta que o resto passa mais depressa. Alinhemos num jogo de faz de conta. Tu fazes de conta que me ouves e eu faço de conta que fico melhor.
Neste mundo é tudo faz de conta, se calhar é por isso que as coisas são tão lineares e não nos apercebemos disso. A única coisa que não faz de conta é quando nos perdemos. Dão-nos o mapa, mas não nos ensinam a lê-lo, tiram-nos a bússola... e depois? Depois, depois estamos mesmo perdidos na nossa perdição. Assim, naquele sem saber o que fazemos a seguir, se queremos o a seguir...Não te vás já embora, ainda agora chegaste... Os dias demoram muito a passar aqui. Fica para me ouvires, apesar de eu não saber articular palavras, só um bocadinho, só para eu enganar esta falta de sentido.
Todos pensam que é fácil, todos pensam que o meu problema é a minha cabeça paranóica, todos pensam que eu mudava isto se quisesse. Mas estão todos errados, porque só eu sei o que aqui vai, porque ninguém pára um bocadinho para se sentar desse lado, e eu estou farta de falar para as paredes do quarto e só ouvir silêncio. Porque eu não sei como se sai daqui...
Senta-te um bocadinho aí, por favor. Por favor, deixa-me tirar a máscara e não fingir que está tudo bem. Por favor, senta-te um bocadinho desse lado e percebe que os verdadeiros loucos são os lúcidos, porque conseguem ver bem o que lhes falta...
Mas, se estás só de passagem e não tens tempo para te sentar desse lado, pede a alguém para cá vir. É só porque torna a alma dormente querer falar com alguém e só ter o tecto, e querer abraçar alguém e só ter o vento e querer ter um abraço a dizer que vai ficar tudo bem e só ter uma porta fechada.
Vá lá, senta-te um bocadinho para me ouvir... é só mesmo um bocadinho, prometo que depois poderão todos voltar para as vossas vidas e nem se vão lembrar. É só um bocadinho para os loucos...só um bocadinho.