Ainda não aprendi a usar o pretérito imperfeito, nem a torná-lo perfeito. Só vivi metade do que hei-de viver e já dizia o meu amado Júdice “a vida partiu-se-lhe ao meio. Talvez não ao meio: teria chegado a vivê-la?” E assim sendo, ainda há muito tempo para aprender a usar os verbos nos tempos correctos, a corrigir as palavras mal ditas, a saber manipular esta Melancolia em Sentido Próprio.
É que se a minha cabeça nunca foi muito boa, agora está pavorosa. E digo-o sem intenções de despertar piedades ou encantos de compaixão forçada. Digo-o porque é verdade. Porque o meu Lado Esquerdo está uma completa confusão. Já não há guias de orientação e a minha cabeça não pára e eu estou sempre a tentar torná-la oca. O mundo é maior que eu e eu ainda não aprendi a viver na pequenez da existência sem drogas, sem vozes constantes a perturbar-me o sono que não durmo, sem uma vontade incapaz de gritar em choro tudo isto que me atormenta. O Caeiro é que tinha razão quando dizia que “Pensar incomoda como andar à chuva quando o vento cresce e parece que chove mais.”
Não quero pensar, não quero, não quero e não quero. Mas não consigo e tenho a cabeça povoada de duendes maquiavélicos que não se calam e sussurram ladainhas de rosários de memórias e eles agrilhoam-me. Já não me lembro da última vez que escrevi, pelo menos da última vez que escrevi duas palavras que tivessem um sentido aceitável. E não faz sentido, porque se eu ouço as vozes devia conseguir. Se calhar é tudo como dizia o Eugénio de Andrade: “Já gastamos as palavras...” E eu já não as posso usar porque os meus olhos não são “peixes verdes”.
Está na hora de aprender a ler a poesia dos outros e aceitar que a minha fica como está. Com Tudo o que temos cá dentro.